terça-feira, 15 de maio de 2012

Desaparecidos lá fora

MUNDO SOLIDÁRIO 
Auxílio financeiro e emocional às famílias, programas de prevenção, linha telefônica gratuita para denúncias e disparo imediato de alerta nos meios de comunicação. Veja como o desaparecimento de pessoas é tratado no exterior 


Foto: Divulgação


Comparar o quadro no Brasil com a atuação de instituições estrangeiras, mostra como drama enfrentado pelas famílias daqui está longe de receber a atenção devida. Em países como o Canadá, Austrália, Comunidade Europeia, Estados Unidos e Reino Unido, a preocupação em relação ao tema, envolve tanto o governo, o terceiro setor e veículos de comunicação. Como se não bastassem as diferenças em pontos cruciais como as quantias investidas, a qualidade das estatísticas, a produção de pesquisas e artigos que ajudam a entender o problema, há três outros fatores essenciais que determinam a eficiência para localizar pessoas: agilidade nas buscas, promoção de políticas públicas e atuação conjunta da polícia e de organizações civis. Confira o que cada país faz para reencontrar seus desaparecidos ou para evitar que o fato aconteça. 


Austrália Além da forma organizada como concentram informações as autoridades australianas se destacam pelo extenso número de pesquisas e artigos que tentam entender e prevenir o fenômeno. Os casos são investigados por oito unidades especializadas espalhadas pelo país, com apoio da Polícia Federal e parceria com cinco agências de buscas que oferecem auxílio gratuito às famílias. As ocorrências são estudadas para estabelecer perfil, modo e causas do desaparecimento, permitindo que o governo desenvolva campanhas anuais de conscientização. Com os estudos, eles chegaram a conclusões apontando que cada desaparecimento afeta diretamente doze pessoas em média, refletindo em prejuízos econômicos e também na queda de rendimento no trabalho de funcionários que perderam alguém. O governo australiano oferece aconselhamento psicológico e apoio emocional às famílias envolvidas numa situação de perda. As pesquisas australianas abrangem detalhes como orientar as pessoas que se ressentem ainda mais dos desaparecidos em datas especiais, como aniversários e outras datas significativas. As famílias são orientadas a atuarem em conjunto com a polícia e os meios de comunicação, estimulando que as informações sejam atualizadas a cada nova pista descoberta. http://www.missingpersons.gov.au  

Canadá O Serviço Nacional de Crianças Desaparecidas, administrado pela Polícia Real Montada canadense, se destaca pela série de medidas que ameniza e previne o extravio de pessoas do ambiente familiar. Contudo, apesar do modo exemplar como o país trata os desaparecidos, ainda que crianças e adolescentes sejam mais protegidos, as estatísticas apontam para números como os registrados em 2009: 50.492 casos de desaparecimento, sendo que 35.768 foram ocasionados por fuga. Atualmente, onze programas específicos estão em prática no país e que auxiliam o cidadão oferecendo assistência a pais que não podem arcar com as despesas de viagens domésticas ou internacionais para reencontrar seus filhos. As passagens aéreas são fornecidas gratuitamente após criterioso acompanhamento do caso. O Amber Alert é baseado no modelo norte-americano [ver abaixo] e envolve parcerias com voluntários, meios de comunicação e ONG's para mobilizar as buscas. Outro recurso é um software utilizado nos casos de desaparecimento ocorridos há mais de dois anos. Trata-se de um processo de envelhecimento fotográfico que ajuda a divulgar a provável aparência atual da pessoa, facilitando o reconhecimento e aumentando as chances de um reencontro. Funcionários do governo, investigadores, departamentos da polícia, cidadãos e instituições que se dedicam ao fenômeno também são reconhecidos com condecorações. A premiação consiste em passagens aéreas para voos domésticos, destinada a pessoas físicas ou jurídicas que se destacam por ajudar nas investigações ou na solução de casos de desaparecimento. Além disso, são oferecidos várias vezes por ano, dois dias de treinamento específico para atualização de profissionais que atuam diretamente com os casos de desaparecimento, como investigadores e representantes da lei canadense. A rede mundial de computadores também passou a ser uma fonte de preocupação das autoridades canadenses. Entre 2000 e 2008, foram realizadas 33 investigações on line, auxiliadas pela Interpol e que originando um manual com dicas de segurança para lidar com o mundo virtual. Outras medidas envolvem estatísticas atualizadas, integração do governo e sociedade civil num esforço conjunto de combate ao desaparecimento, extensa rede de parceiros em outros países que facilitam a localização fora do território canadense. 

Comunidade Europeia Na Europa, a Missing Children Europe foi criada em 2001 e atualmente reúne 24 ONG's de 17 países, incluindo a Suíça, para combater o desaparecimento de crianças e adolescentes. Atendendo a uma determinação da Comissão Europeia de fevereiro de 2007, a organização disponibiliza o número 116000 no qual esclarece o assunto através de dicas para a família, manual de conduta e melhores práticas e perguntas mais frequentes sobre desaparecimentos. Uma das iniciativas da MCE é distribuir gratuitamente braceletes de identificação para os pais e responsáveis colocarem nos filhos. [www.missinchildreneurope.eu] [http://www.hotline116000.eu/] ESTADOS UNIDOS O país foi um dos primeiros a tomar medidas contra o desaparecimento de pessoas, especialmente de crianças e adolescentes. Em 1981, foi instituído o 25 de maio como o Dia Internacional de Crianças Desaparecidas e desde então uma série de medidas foi criada, como a criação do Amber Alert, em 1996, do Amber Alert, um comunicado acionado pela polícia, após checagem detalhada, para informar rapidamente sobre o desaparecimento de criança ou adolescente vítima de rapto ou sequestro. Em casos excepcionais, são emitidos alarmes sobre o sumiço de adultos vulneráveis. O sinal é veiculado imediatamente por estações de rádio, canais abertos e fechados de TV, além de utilizar correio eletrônico e outdoors luminosos, já que especialistas consideram as primeiras três horas como cruciais para a vida do desaparecido. O Amber é registrado também no Centro Nacional de Informação sobre o Crime, órgão ligado ao FBI. No final de 2002, o sistema foi adotado também pelo Canadá e atualmente seis outros países possuem um alerta que segue as premissas norte-americanas: Austrália, França, Grécia, Holanda, Irlanda e Malásia. A organização Office of Juvenile Justice and Deliquency Prevention é uma das centenas que atuam na questão de desaparecimento infanto-juvenil em parceria com o Departamento de Justiça Norte-americano, emitindo relatórios e estatísticas que são utilizadas em políticas públicas que se refletem na vida prática do cidadão. [http://www.ojjdp.gov/]

Reino Unido A organização inglesa Missing People investe anualmente cerca de 1,9 bilhão de Libras Esterlinas (cerca de R$ 5 milhões) para oferecer apoio gratuito aos familiares de desaparecidos, estimados em 250 mil pessoas/ano. Entre 2010 e 2013, a organização pretende implementar novos serviços de apoio, orientação e suporte psicológico e financeiro para os que sofrem com as consequências de desaparecimentos de parentes e amigos. Destacam-se serviços como linha telefônica (nº 116000) exclusiva para atender a população em pontos espalhados pelo país, agilizando a informação quando um desaparecido é visto; extensa rede de voluntários mobilizados nas grandes e pequenas cidades mobilizados em torno de ações promovidas pela instituição; acompanhamento por profissionais de psicologia a fim de oferecer conforto emocional à família. Além disso, a MP promove parcerias com o governo e organizações de voluntários que otimizam o atendimento à população. A Missing People busca ainda influenciar na legislação do país em busca de implantação de políticas públicas e de melhorias das práticas já em vigor. [www.missingpeople.org.uk]

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