terça-feira, 15 de maio de 2012

Editorial


Foto: Tom Correia

Ver as pessoas mostrando na TV, semanas após semanas, fotos esmaecidas de desaparecidos, sempre nos provocou forte inquietação. Este desconforto recorrente, marco inicial das pesquisas que resultaram neste Produto Experimental, nos impeliu a partir em busca das origens do desaparecimento. Após um ano e meio de investigação, terminamos por nos deparar com o contra-senso de leis que não se refletem em práticas eficazes, e, sobretudo, com as inúmeras falhas que circundam a investigação dos casos em Salvador. Também pesquisamos como o tema vem sendo tratado no Brasil e no Mundo.  

Para este Caderno Especial, entrevistamos Josenilda Lima, fundadora do recém extinto Movimento Simone Pinho. Ela conta sua saga envolvendo a trágica perda de sua filha até os últimos esforços para manter a instituição que auxiliava na localização de pessoas. A grande reportagem “Vidas Suspensas” apresenta o imenso painel que emoldura as intricadas ramificações do drama provocado pelo sumiço de uma pessoa, colocando em xeque a atuação dos órgãos estatais responsáveis pela solução dos casos, já que políticas públicas visando à prevenção são uma quimera. O Caso Glauber e o Caso Alice são apresentados em perfis que ilustram como a ausência de filhos queridos pode desequilibrar a harmonia familiar, apesar de toda obstinação e tentativas beirando o desespero para localizá-los.

Já o artigo do sociólogo Dijaci Oliveira, um dos maiores estudiosos do assunto, contesta os números oficiais apresentados pelo Ministério da Justiça. Há ainda uma mostra de como são executados programas de prevenção e solução de casos em países como o Canadá, Austrália e Reino Unido, o que nos rebaixa à condição de país jurássico quando se trata de eficiência na elucidação desse tipo de episódio. 

Infelizmente a necessidade, cada vez mais imperativa, de debater formas de atenuar a situação dos milhares de atingidos não parece estar na ordem do dia das instituições brasileiras. Ainda assim, esperamos que este TCC seja compreendido como uma colaboração no sentido de alertar a sociedade. E que as autoridades constituídas deixem de tratar o assunto com o descaso, a letargia e a explícita má vontade, como foi constatado durante a apuração, pesquisa e execução deste trabalho.

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